"Devaneio e embriaguez duma rapariga", é o conto que inicia o livro:
Laços de família, da minha amada Clarice Lispector. Este conto é narrado
no calor do Brasil que o sol reverbera estridente nas persianas ou nas
palavras de Clarice: " o sol preso pelas persianas tremia na parede como
uma guitarra". E a personagem principal, a rapariga, abana-se com um
pedaço de jornal.
Mas como os filhos não estavam, resolveu "amanhecer esquisita", o que significaria isto? Breve responderei.
Continuamos. Passara-se um milésimo de segundo e o marido estava
arrumado para ir tratar de negócios na cidade, porém, não sabia se a
roupa estava bem passada, e a rapariga pouco se importava. E eis que o
marido taca-lhe um beijo, enquanto a rapariga responde colérica para o
marido deixar de lenga-lenga com ela.
A parti disso, o marido
pressupõe que a rapariga esteja doente, porém ao invés de negar, ela
aceita agradecida, lisonjeada. E então, começa a odisseia interior, pois
a rapariga vê-se ao meu ver liberta das tarefas impostas de ser mãe e
cuidadora da casa, pois, anteriormente a rapariga viu que os filhos
estavam na casa das titias em Jacarepaguá para "amanhecer esquisita",
partindo do pressuposto que antes não podia ser esquisita com os filhos
na casa, ou seja, com a obrigação dos afazares de casa e de cuidar dos
miúdos.
Em outro trecho Clarice Lispector diz: " A manhã tornou-se
uma tarde inflada", ou seja, uma manhã leve, calma e normal tornara-se
atípica; grande em largura e em comprimento que só a liberdade do
pensamento da rapariga conseguiu destrinchar as correntes e preenchia
aquela imensidão com o ser.
Um conto maravilhoso, recomendo todos a
lerem. Estou relendo os livros de Clarice para o projeto "lendo
Clarice" e este livro Laços de Família é que eu recomecei, por ora,
quero escrever minhas impressões de cada conto deste livro e dos outros.
Essa foi a primeira impressão, e vocês, o que acharam do conto? Já leu?
Releu? Ou ainda está a ler?
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