domingo, 4 de dezembro de 2016

Ferreira Gullar e sua poesia "Traduzir-se"



foto elaborada pela: Zoguimaraes
Hoje em pleno domingo abro a timeline do facebook e me deparo com uma notícia triste para os amantes das palavras, da poesia, e todas as suas vertentes. Passei o olhar diante da matéria sem acreditar, li, reli diversas vezes sem acreditar que um dos maiores poetas da língua portuguesa tinha ido a óbito.

E não há melhor maneira de homenagear este poeta ilustre com um dos seus maiores poemas que já li, e que me faz pensar nas nosas metades que temos dentro de nós, e que é assim que nos tornamos humanos.

Tenho certeza que uma metade do Ferreira Gullar estará para sempre aqui na terra com seus escritos maravilhosos que fazem da outra metade da vida um lugar melhor para entendermos essa passagem tão dolorosa que é a morte. 


                                       
                           
                                                                       
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será arte?

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