terça-feira, 7 de junho de 2016

Uma folha caiu no gramado, Henrique Choppin Cardoso




Uma folha caiu no gramado, fiquei sem saber se aquilo era um terremoto ou apenas mais uma vulgaridade do vento.

Nada foi como o dia em que ouvi o hino nacional
deitado em berço esplêndido na futura democracia patriarcal

Ah, como existem doces que fazem a vida flutuar como uma bolha de sabão ao ar, e de repente o outono vem e tudo se dissipa na poeira cósmica que insiste em dizer o quanto somos formigas nessa imensidão terrestre.

Ah, como eu queria uma dose de sentido para conseguir ao menos diferenciar o sentimento da razão, e a arte da vida, ah como tudo é uma pergunta sem respostas. E sinto-me feliz em dizer que há o mistério entre a pergunta e a resposta, e nesse mistério nós caminhamos sobre as águas.

Nada posso fazer se não mergulhar, e voar na minha infância e por lá pousar sabendo que há feridas que o remédio cicatrizará, e voltarei a brincar na maior inocência, com a plena convicção que não há nenhum mal que possa me acometer novamente. E como adulto que agora estou, sou renovado de tempos em tempos e sinto normalmente uma leveza de bailarino entre o meu ódio e o meu amor, que acabo me tornando humano.

Como é belo e sensível ser aquilo que estamos acostumados a ocultar na epiderme. quero falar apenas daquelas rosas que permaneceram em minha memória depois de mortas. quero falar daquilo que estou há tanto tempo querendo dizer. Quero falar e isso importa?

Isso não é nada que se compare com o rio que um dia foi Rio de Janeiro. Nada é mais interessante do que falar de coisas banais, corriqueiras, do dia a dia. Como aquele dia em que o avião caiu no meio do mar sem saber se fora um ataque terrorista ou uma abdução de extraterrestres. Ou naquele dia em que houve várias tremulações das placas tectônicas dentro do meu pensamento.

Não queria falar em seres de outros planetas, mas falei, perdão foi em vão. Pensei que houvesse algum lugar em que eu iria poder naufragar sem plateia. Mas do nada o dia sumiu e fui engolido por sensação de nostalgia que me sentei na Avenida Paulista e fui deglutido pelo trânsito tão vorazmente que peguei meu pensamento e fiz dele um aliado da minha carne. Como a chuva que caiu no dia em que meu cachorro morreu, e descobri que tudo era efêmero como um vento que passa diante do avião sem se fazer notar.

E por falar em tempo quero falar de nós. Nós que nos encontramos naquele verão de triturar nossos miolos mais inaptos que fez com que descobríssemos o segredo da inocência. Se tudo isso tivesse alguma verdade gostaria que a publicassem no jornal como notícia principal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário